O Governo Federal anunciou oficialmente a destinação da área da antiga Usina Cambahyba, localizada em Campos, para a reforma agrária. Este terreno será transformado em um assentamento para os membros do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). A jornalista Flávia Oliveira trouxe essa importante informação em uma matéria publicada no jornal O Globo.
Essa área, que compreende sete fazendas e abrange aproximadamente 3.500 hectares, tem sido objeto de disputa por quase três décadas. Em 2012, foi considerada improdutiva pelo sistema judiciário. Em 2021, foi desapropriada e destinada ao Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) pela 1ª Vara Federal de Campos. No mesmo ano, cerca de 300 famílias do MST ocuparam a área em junho, marcando um passo significativo nessa jornada (leia mais aqui). Além disso, vale destacar que esse local ficou tristemente conhecido como um dos palcos de violência política durante o período da ditadura militar no Rio de Janeiro, onde os fornos da usina foram alegadamente utilizados na década de 1970 para incinerar os corpos de 12 vítimas do regime.
Durante a cerimônia de posse dos membros do órgão, a secretária de Diálogos Sociais da Secretaria Geral da Presidência do Conselho Nacional de Desenvolvimento Rural Sustentável, Kelli Mafort, anunciou a inclusão da área da Cambahyba na reforma agrária para a deputada estadual Marina do MST (PT-RJ) em 17 de agosto.
De acordo com informações do veículo de imprensa, esse assentamento receberá o nome de Cícero Guedes, em homenagem a um ativista que, na sua infância em Alagoas, se libertou do trabalho análogo à escravidão nas plantações de cana-de-açúcar e depois migrou para Campos. Ele aprendeu a ler aos 40 anos, se uniu ao MST e, no início do século, foi oficialmente estabelecido no assentamento Zumbi dos Palmares, que também fica na região. Tragicamente, Cícero foi assassinado a tiros em 2013.
A Usina Cambahyba foi uma das principais propriedades agroindustriais do município e está completamente desativada desde a safra de 1995/1996, quando ocupava uma área total de 6.763 hectares, dos quais 85% eram dedicados à produção de cana-de-açúcar.
Em junho, durante uma visita à área, a Deputada Marina do MST enfatizou por meio das redes sociais que “a ocupação dessas terras representa uma denúncia contra o projeto de exploração dos trabalhadores e da natureza. Essa terra carrega a essência da história de exploração política e econômica que o latifúndio e o agronegócio perpetraram em nosso país”.
O MST também reiterou por meio das redes sociais que essa é uma luta que remonta a 23 anos, quando o movimento ocupou as terras da Usina Cambahyba, após a desapropriação oficial determinada pela justiça para fins da Reforma Agrária.
Além disso, a Comissão Nacional da Verdade (CNV) confirmou que o local foi usado para a incineração dos corpos de 12 presos políticos, que foram retirados da Casa da Morte, um centro clandestino de tortura em Petrópolis (RJ), e do DOI-Codi, na capital. O ex-delegado Cláudio Antônio Guerra, do Dops, afirmou em seu depoimento que “atendia aos chamados do capitão de cavalaria do Exército Freddie Perdigão Pereira e recebia os corpos diretamente da equipe do militar”, conforme relatório da CNV. A Justiça Federal de Campos condenou Guerra a sete anos de prisão em regime semiaberto por ocultação de cadáveres durante a ditadura, e o Ministério Público Federal denunciou o ex-delegado com base em relatos do livro “Memórias de uma guerra suja”.
Segundo informações do jornal O Globo, o assentamento da Cambahyba oferecerá lotes para 185 famílias, proporcionando uma nova oportunidade de vida para aqueles que buscam uma transformação em suas condições de vida por meio da reforma agrária.
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