A discussão política é e seguirá sendo uma constante na vida do cidadão brasileiro, por mais que tenham e é grande o número, daqueles que preferem se manter à margem do debate. Mas, em especial no processo presidencial deste ano, agora em especial no segundo turno das eleições tendo o atual presidente Jair Bolsonaro (PL) e Lula (PT) como adversários direto em pleito marcado por embates, denúncias e disputa acirrada, a religião ganhou uma notoriedade até então não vista, e, a questão ganha proporções que aos olhos de quem conhece profundamente o tema, sabe o qual perigoso tem se tornado. A máxima de que “Política e religião não se discutem” ficou no passado.
Na última semana, Dom Roberto Francisco Ferreria Paz, Bispo Diocesano de Campos se manifestou através da página oficial da Diocese e trouxe a luz do debate uma crítica aos líderes religiosos que tem se utilizado de seus espaços para em muitos casos intimidar os que os seguem.
‘A recente nota da Presidência da CNBB, de 11 de outubro, adverte, de forma clara, contra a exploração da fé e da religião para angariar votos no segundo turno. Torna-se uma apropriação indevida de símbolos e espaços sagrados para veicular conteúdos de campanhas políticas eleitorais. Desvirtua-se a finalidade, precípua e sublime do culto, para exaltar pessoas e conquistar, de modo inadequado, e antiético, votos de fiéis que são, dessa forma, cooptados e distraídos da sua devoção autêntica de glorificar ao próprio Deus.
Por outra parte, percebe-se, em certos ministros religiosos (pastores e padres), um comportamento próximo do abuso espiritual e da intimidação, ameaçando com a maldição do inferno ou até excomunhão aos eleitores que votarem no candidato contrário ao que eles defendem, como única alternativa. Esquece-se que a missão de um líder espiritual é formar consciências, não substituí-las (Amadeo Cencini), iluminar e chamar à reflexão, não determinar, coagir e direcionar o voto, cerceando-se gravemente a liberdade de expressão e o direito ao voto. Para esses religiosos que assumem a função de cabos eleitorais e que violentam a sacralidade das consciências dos fiéis, as pessoas tornam-se massa de manobra, ou rebanho gregário, que deve ser totalmente conduzido, sem o mínimo respeito, a suas preferências ou opções. Estes representantes do fundamentalismo religioso ainda interferem, de modo insidioso e violento, no clima eleitoral, praticando o terrorismo espiritual que divide, acirra os ânimos e gera atitudes de ódio, medo e desgosto pela atividade política.
O Cristo do Evangelho é o grande esquecido e desconhecido por estas práticas que tornam as eleições uma guerra suja, na qual, o único que importa é ganhar, passando por cima do respeito, do amor incondicional, da justiça, legalidade, verdade, e todos os valores do Reino que o Salvador veio testemunhar para guiar a humanidade a dignidade da filiação divina e da reconciliação. Resgatemos a política como a arte e a ciência do bem comum, da mais alta forma de exercer a caridade, e testemunhar, de modo inequívoco, o serviço e o amor incondicional a todas as pessoas. Deus seja louvado!’.