quarta-feira , 4 junho 2025

Sesc Campos com a peça “Luiza Mahin … eu ainda continuo aqui”, nesta sexta

O espetáculo “Luiza Mahin… eu ainda continuo aqui”, estará nesta sexta-feira (14), às 20 horas, em apresentação única, no Sesc Campos, na Avenida Alberto Torres, 397. O espetáculo aborda a questão do extermínio da juventude negra no Brasil, além do desaparecimento destes jovens oriundos de comunidades e periferias. A montagem promove um cruzamento entre os relatos contemporâneos destas mães com a vida da personagem Luiza Mahin, nascida no início do século XIX, mãe do advogado abolicionista e jornalista Luiz Gama, vendido como escravo pelo próprio pai.

A peça destaca a cíclica separação forçada dos filhos que acomete as populações negras há séculos. Mahin é apresentada como uma voz ancestral que conhece a dor da perda de um filho e acalenta as mulheres. O texto costura uma coletânea de falas e depoimentos verídicos de mães vítimas da violência policial, veiculados em diferentes mídias.

Luiza Mahin ficou conhecida como revolucionária na Revolta dos Malês (1835 – BA) e representa, para a comunidade negra, o ideário de uma ancestral guerreira, símbolo de força e inspiração para as mulheres negras. Com sua existência até hoje posta em dúvida, sua história ainda é praticamente desconhecida, apesar da importância do seu filho Luiz Gama como jornalista e advogado abolicionista. O texto foi criado a partir do único documento que comprova sua existência – uma carta deixada por Gama.

Os ingressos integrais estão no valor de R$10,00, tendo ainda a meia entrada em R$ 5,00, além das gratuidades para o público do Programa de Comprometimento e Gratuidade (PCG), que é um Programa do Sesc que define uma meta mínima de investimento em atividades educativas e gratuitas para pessoas com renda familiar de até três salários mínimos nacionais.

Projeto apresenta dor das mães e perdas sociais

O projeto nasceu do desejo de Cyda Moreno, atriz e idealizadora, de trazer para a cena a dor de mães que tem tido seus filhos assassinados e desaparecidos numa rotina que já se tornou  comum na sociedade brasileira.

A peça coloca em perspectiva a questão das perdas sociais representadas pela morte de tantos jovens, na medida em que traça um paralelo com a bem-sucedida trajetória abolicionista de Luiz Gama. Provocando, dessa forma, a reflexão sobre qual poderia ter sido o curso de vida – pessoal e social – de cada um desses jovens assassinados.

Artistas negros em relatos de situações reais

IMG_0469-1-721x1024A equipe é formada por artistas negros, veteranos, com trajetória reconhecida no cenário artístico. A direção geral e preparação corporal é de Édio Nunes. A direção musical de Jorge Maya; os figurinos e adereços de Wanderlei Gomes e a percussão de Regina Café. No palco estão as atrizes Cyda Moreno, Márcia Santos, Márcia do Valle e Taís Alves e o ator Jonathan Fontella.

A peça é estruturada em monólogos que, distribuídos entre as quatro atrizes, buscam formar uma narrativa única. Apresentam relatos de situações reais, como a chegada da notícia de um filho assassinado; o interrogatório policial; o reconhecimento do corpo de um filho no IML; a abordagem policial nas comunidades pobres; os traumas e doenças provenientes das perdas violentas; revolta, vazio, culpa e solidão.

Uma família negra com filhos jovens não dorme em paz

A atriz e idealizadora do projeto, Cyda Moreno, é quem conta: “Como mulher negra, mãe de dois jovens negros, e moradora da zona norte do Rio de Janeiro, cada vez que uma criança, ou um jovem negro é “abatido”, sinto como se tivesse caído um dos meus. O medo, o sofrimento e a impotência nos apavoram. Sinto que cada dia estamos mais perto de ser o alvo dessa tragédia.

Uma família negra que vive nas grandes cidades, principalmente na cidade do Rio de Janeiro, não dorme em paz. Até dentro de casa podemos perder de forma bárbara e violenta os nossos familiares. Um grupo de outras mulheres negras, atrizes e mães também sentiram esta mesma necessidade: de usar a arte para levar esta indignação às pessoas. Eles não podem nos calar. E nós não podemos continuar nos deixando levar pela impotência. E na necessidade de retratar a dor de nossas mães, surgiu o desejo de associar estas mulheres à dor de Luiza Mahin, misturando passado e presente. Mahin até hoje é uma personagem enigmática da nossa história. E a discussão quanto a sua existência ou não, é um desafio para muitos historiadores.”

A peça foi contemplada pela Lei Aldir Blanc, tem duração de 70 minutos, com classificação etária de 14 anos.

Fonte: negrxs50mais.com.br

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